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O que deveria ser um ato pacífico, com a prática do livre exercício democrático do diálogo, transformou-se em cenário de pancadaria, bombas de gás, balas de borracha, pessoas feridas e presas.

Esse foi o desfecho do ato público realizado pelo Fórum das Seis (que agrupa os sindicatos e entidades estudantis das universidades estaduais paulistas e do Ceeteps) em 7/3/2017, no campus Butantã da USP. O objetivo era conversar com os conselheiros que participariam de reunião do Conselho Universitário da USP sobre a gravidade do projeto proposto pelo reitor Marco AntonioZago, que iria à votação sem absolutamente nenhum debate com a comunidade. O projeto – intitulado “Parâmetros de Sustentabilidade Econômico-Financeira” – fixa teto para a folha salarial e autoriza a Reitoria a exonerar servidores docentes e técnico-administrativos, arrochar salários e benefícios para alcançá-lo.

A primeira parte do ato foi tranquila, embora a área da reitoria estivesse toda cercada, o que exigia dos manifestantes que passassem o microfone aos oradores pelas grades. A coordenação do Fórum das Seis conduziu as falas, todas rejeitando o pacote do reitor e solidarizando-se com a comunidade. Neusa Santana Alves, Silvia Elena de Lima e Denise Rykala, da diretoria do Sinteps, falaram em apoio aos professores, funcionários e estudantes da USP. Silvia relata que pediu aos conselheiros que fossem embora, “em respeito à comunidade que, em tese, representam e que se insurgiu contra a proposta do reitor que ataca a USP”. Neusa representou a direção da Fasubra na atividade.

Também estiveram presentes representantes de outras entidades sindicais e de movimentos sociais, como o Andes, a CUT e outros, além dos deputados estaduais Carlos Giannazi (PSOL) e João Paulo Rillo (PT). Quando os conselheiros iam chegando, recebiam cartas elaboradas por Adusp, Sintusp e DCE Livre da USP, explicando as críticas ao projeto e pedindo que votassem contra. Tudo de forma absolutamente cordial e pacífica.

Por volta das 15h30, no entanto, chegou à coordenação do Fórum a informação de que a PM havia orientado os conselheiros a entrar, pois os policiais iriam “limpar” a entrada da reitoria. E foi o que ocorreu. Sem nenhum aviso, os soldados começaram a lançar bombas de gás e a atirar balas de borracha sobre os manifestantes, que corriam para todos os lados. Várias pessoas foram agredidas. Diana Assunção, diretora do Sintusp, por exemplo, levou um violentíssimo golpe na nuca e, sangrando, precisou ser levada para o HU. A informação recebida pela coordenação do Fórum é que quatro manifestantes haviam sido presos. Na madrugada, com o suporte de advogados das entidades, foram liberados. O vereador Eduardo Suplicy (PT) compareceu à 93ª DP para dar apoio aos manifestantes detidos.

 

“PEC do fim do mundo” aprovada

A violenta ação policial, realizada a pedido do reitor Zago, foi bem-sucedida. A reunião do CO teve início por volta das 16h30 e estendeu-se até o final da noite. Vários conselheiros, impactados com a selvageria patrocinada pela reitoria, fizeram uso da palavra para protestar e solicitar que, diante da gravidade da situação, a reunião do CO fosse suspensa.

Mas isso não aconteceu. A proposta foi aprovada por 52 votos a favor, 32 contrários, com duas abstenções. Quatro destaques serão votados na próxima reunião do CO (ainda não há detalhes sobre isso).

O projeto aprovado pelo CO da USP impõe a limitação dos investimentos nas próximas gestões, obrigando-as a seguir a mesma política de arrocho salarial da atual gestão. Os gastos com pessoal deverão se limitar a “85% das receitas relativas às liberações mensais de recursos do Tesouro do Estado de SP”. Sempre que esse limite for ultrapassado, a reitoria estará autorizada a exonerar pessoal, além congelar salários e benefícios.

O projeto em muito se assemelha à PEC 241 – que depois se transformou em PEC 55 no Senado, também conhecida como “PEC do fim do mundo”, que congela por 20 anos os recursos para a saúde e a educação públicas.

 

Nota de repúdio

            O Sinteps vê com preocupação a escalada de violência contra os movimentos sociais no país. A cada dia, ficam mais nítidas as intenções por trás do golpe vivido pelo país no ano passado, que levou ao poder o ilegítimo governo de Michel Temer. O grande objetivo é cortar direitos da população para garantir os lucros dos capitalistas. E, para isso, é preciso reprimir com violência os que reagem.

            O Sintepsreafirma a nota pública de repúdio divulgada pelo Fórum das Seis na noite de 7/3, a seguir:

 

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Nota pública do Fórum das Seis 

Bombas de gás, balas de borracha e brutalidade policial sobre estudantes, professores e funcionários na USP!

Responsabilidade é do Reitor Zago e da PM paulista

Um ato público absolutamente pacífico na tarde desta terça-feira, 7/3/2017, em defesa da USP, solicitando o estabelecimento de um diálogo democrático com a comunidade acerca de questões cruciais para a sobrevivência da Universidade, que seriam discutidas e eventualmente deliberadas em reunião do Conselho Universitário, transformou-se em cenário de brutalidade policial no campus Butantã.

O ato foi promovido pelo Fórum das Seis Entidades – constituído pelas entidades sindicais e estudantis da USP, Unesp, Unicamp e Centro Paula Souza –e reuniu centenas de estudantes, professores e funcionários.

O uso de bombas de gás e balas de borracha, assim como o espancamento de pessoas desarmadas, foi o desfecho de um dia marcado por ações intimidatórias e provocativas perpetradas pela PM desde as primeiras horas da manhã.

A gestão M.A. Zago-V. Agopyan é a principal responsável pela repressão sofrida pela comunidade uspiana, uma vez que é prerrogativa sua permitir, ou não, a presença e as ações da tropa de choque da PM contra servidores e estudantes da USP, bem como contra parlamentares e representantes de entidades sindicais e de movimentos sociais presentes nesta manifestação.

O Fórum das Seis manifesta o seu mais veemente repúdio contra as ações da PM que, sob o patrocínio da Administração Central da USP, aviltaram o direito de livre manifestação e violentaram a autonomia de uma das universidades mais importantes do país.

 

São Paulo, 7 de março de 2017.

Fórum das Seis Entidades.